A primeira impressão que se tem ao ler um texto de Saramago é que o seu estilo e a sua linguagem brotam de uma forma súbita, demolindo as regras tradicionais. A linguagem de Saramago reinventa a escrita, combinando características do discurso literário com o discurso oral, construindo uma narrativa marcada por uma cumplicidade entre o narrador e o narratário.
Assim podemos referir como marcas essenciais da prosa de Saramago:
_ A ausência de pontuação convencional, sendo a vírgula o sinal de pontuação de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas;
_ O uso revolucionário da maiúscula no interior da frase;
_ O emprego de exclamações e “apartes”;
_ A utilização predominante do presente – marca do fluir constante do narrador entre o passado e o presente;
_ A mistura de discursos – discurso direto, indireto, indireto livre e monólogo interior – que aponta para uma memória da tradição oral, em que contador e ouvintes interagem;
_ A coexistência de segmentos narrativos e descritivos sem delimitação clara;
_ A presença constante de marcas de informalidade/espontaneidade construídas pela relação narrador/narratário;
_ A intervenção frequente do narrador através de comentários, o que dificulta a identificação das vozes intervenientes;
_ O tom simultaneamente cómico, trágico e épico;
_ O discurso reflexivo também construído pelo emprego de provérbios e ditados populares.
Sem comentários:
Enviar um comentário