O narrador em Memorial do Convento
O narrador é o produtor da ficção, o estruturador do texto. A sua principal função é a apresentação dos fatos (função narrativa). No entanto, nada é impedimento para manifestar a sua opinião própria em relação à narração, às personagens, ao tempo, ao espaço ou ao ambiente social dessa narrativa.
Em Memorial do Convento temos a perceção de um narrador que: descreve paisagens, situações, fatos acontecidos e a acontecer, estados de alma; sintetiza, usando provérbios populares ou reinventando-os; profetiza; se apaga face às personagens ou que as manipula; ironiza, distanciando-se ou comprometendo-se com a vivência da personagem; domina integralmente a História ou que se limita às suas eventualidades. Nesta obra, o narrador assume-se como a voz que está de fora e conta a história com apartes e comentários, uma voz distanciada, impessoal e intemporal, com marcas de oralidade, como se estivesse a comentar a história que estaria a contar em voz alta. No domínio temporal, é isto que o torna omnisciente. Mas por vezes, o narrador adota o olhar de uma personagem, vê a realidade pelos seus olhos – focalização interna – através da qual adota um ponto de vista (“ e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus…”).
Assim, o narrador movimenta-se entre o passado, o presente e o futuro; é detentor de um vasto conhecimento que lhe permite controlar a ação e as personagens
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