quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Estado Novo e a censura

A censura à imprensa periódica foi instituída em 24 de Junho de 1926 e mantida até 1974. Aos poucos foi-se estendendo aos outros meios de comunicação, tais como o teatro, o cinema, o rádio e a televisão. Nenhuma palavra ou imagem podia ser publicada, pronunciada ou difundida sem prévia aprovação dos censores.
Não houve qualquer alteração estrutural durante quatro décadas.Visaram assuntos, não apenas políticos e militares, mas também morais e religiosos, normas de conduta e toda e qualquer noticia susceptível de influenciar a população num sentido considerado perigoso.
Os livros tinham de ser frequentemente retirados do mercado por ordem das autoridades.
A policia politica foi reorganizada na década de 1930. Primeiro chamada PVDE, passou a ser conhecida por PIDE.

A Corte no Brasil

A Corte no Brasil



Em Portugal, a vitória do liberalismo foi precedida de vários episódios de revolta, nomeadamente a conspiração de 1817, que vitimou vários portugueses inconformados com a política vigente.
D. João VI, instalado com a corte no Brasil, deixara a metrópole à mercê do governo constituído por uma junta de governadores, Beresford, representante do poder militar britânico. O país vivia uma situação de declínio económico, social e comercial e sentia-se abandonado pelo seu rei.

Terminada a guerra, os Ingleses mantinham o país em estado de mobilização e conservam nas fileiras perto de cem mil homens. Segundo um relatório que a junta de Governo enviou a D. João VI, em 1820, o exército absorvia três quartas partes das receitas públicas.



Titulo


O título do livro mostra-nos que depois de tantos anos de total escuridão, finalmente se pôde ver o luar! Apareceu uma nova luz em Portugal, uma nova esperança.


Estrutura da obra


A acção da peça está dividida em dois actos, sem qualquer indicação de cenas (estrutura interna). A obra compõe-se em três momentos: 

- A exposição;
- O clímax;
- O desfecho

Na exposição faz-se a apresentação das personagens e fornecem-se as informações elementares sobre a acção e seus antecedentes. 
O clímax corresponde ao momento em que o conflito alcança a máxima intensidade dramática e em que se revelam as posições antagónicas.
O desfecho, tal como o próprio nome sugere, é a altura em que se realiza o desenlace da acção dramática

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Elementos simbólicos em Felizmente há Luar!

Em Felizmente há luar! abundam elementos simbólicos que vale apena interpretar para haver uma compreensão correta da obra.

verde da saia que a viúva leva para a execução de seu marido associa-se à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. A saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.





A luz surge como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. A luz representa a esperança num momento trágico.




Na obra há inúmeras referências à noite: “Ontem à noite entraram mais de dez pessoas na casa de…”; Mas como, Matilde, como é que se pode lutar contra a noite?”. De fato, é durante a noite e madrugada que se efetuam as prisões e as execuções prolongam-se pela noite. A noite simboliza a escuridão, a morte, a tristeza.





fogo aparece como um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.




Os tambores representam, em Felizmente há luar! a opressão, o medo, que existia nesse tempo quando chegava a polícia. 


Felizmente Há Luar! - Ação, Espaço e Tempo



Ação


  • A conspiração abortada de 1817, que antecedeu a revolução liberal de 1820 e que teve como " suposto cérebro" o general Gomes Freire D'Andrade, serve de pretexto ao autor para, evocando essa época histórica e situando a acção dramática nesse tempo histórico, falar do seu próprio tempo (1961), alertando as consciências, denunciando situações de repressão comparáveis a outros tempos de noites sombrias.
  • É representada por actores diante de espectadores que a sentem como actual.
  • Desenvolve-se num andamento progressivo, segundo uma introdução, um desenvolvimento e um desfecho. 

Espaço


 Em Felizmente há luar! a mudança de espaço físico é sugerida essencialmente pelos efeitos de luz. O espaço cénico é pobre, reduz-se a alguns objetos que têm a função de ilustrar o espaço social. Esta simplicidade parece ser intencional e mais importante que os cenários são a intensidade do drama que é realçada por esta economia de meios.


  O espaço psicológico caracteriza-se pela relação afetiva que algumas personagens mantêm com determinados espaços que, evocados pela memória, sugerem características psicológicas das personagens que lhes fazem referência. O espaço social é-nos mostrado através das didascálias, no que diz respeito ao guarda-roupa e adereços, atitudes e movimentações das personagens, informações transmitidas entre personagens e registos de língua. 




Ato I:


. Ruas de Lisboa (onde se encontram os populares)

. Local onde D.Miguel Forjaz recebe Vicente
. Palácio dos governadores do Reino, no Rossio
. Referência à casa de Gomes Freire lá para os lados do Rato e espaços frequentados pelos revolucionários conspiradores – café no Cais do Sodré; Botequim do Marrare; loja maçónica na rua de São Bento.




Ato II:


. Ruas de Lisboa;


. Casa de Matilde de Melo;


. À porta da casa de D. Miguel Forjaz;

. Local onde Matilde fala com o Principal Sousa;
. Alto da serra onde Matilde e Sousa Falcão observam as fogueiras que queimam os revolucionários;
. Referência à masmorra de S. Julião da Barra, Campo de Santana para onde são levados os presos, aldeia onde Matilde cresceu, Paris, campos da Europa onde o General combateu.



Tempo

  Em relação a Felizmente há luar! podemos falar sobre três tempos: o tempo histórico, o tempo da acção e o tempo da escrita.

Tempo histórico

   A acção de Felizmente há luar! representa a história do movimento liberal oitocentista, no rescaldo das invasões francesas e a "protecção" britânica que se lhe seguiu, revelando as condições da sociedade portuguesa no início do século XIX e a acção de resistência dos mais esclarecidos. A conspiração, encabeçada por Gomes Freire, manifestava-se contra a ausência da corte no Brasil, contra o poder absolutista e tirânico dos governadores e contra a presença inglesa personificada por Beresford. Destaca-se ao longo do texto, a situação do povo oprimido e a falta de perspetiva para o futuro. Os acontecimentos históricos reveladores de um tempo de uma crise militar, de uma crise política, económica, ideológica e a data de execução do General Gomes Freire, são percetíveis através das falas das personagens (“Vê-se agente livre dos Franceses, e zás!, cai na mão dos Ingleses!”/”sempre a Revolução francesa…”/”Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de Outubro de 1817.”).


Tempo da acção 


  Felizmente há luar! tem como cenário o ambiente político do início do século XIX: em 1817, uma conspiração, encabeçada por Gomes Freire de Andrade, que pretendia o regresso do Brasil do rei D.João VI e que se manifestava contrária à presença inglesa, foi descoberta e reprimida com muita severidade: os conspiradores, acusados de traição à pátria, foram queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir.
  As indicações temporais fornecidas pelo texto permitem-nos verificar que a intriga se desenrola de forma linear e progressiva, embora não sejam muito precisas as indicações sobre a duração da acção. 


Tempo da escrita


  Felizmente há luar! foi publicado em 1961, em plena ditadura do regime de Salazar. Sttau Monteiro viu na época de 1810-1820 grandes semelhanças com a realidade portuguesa da década de 1950-1960 e marca uma posição pelo conteúdo fortemente ideológico, denunciando a opressão vivida na época em que escreve a obra, em 1961, estabelecendo um paralelismo entre as duas época

Felizmente há Luar! - Personagens

  O autor põe a personagem em acção, proporcionando a sua caracterização ao leitor/espectador através do seu comportamento e do seu discurso. 

  • Gomes Freire D'Andrade - personalidade carismática e de pestígio, admirada pelo povo, desperta ódios e inveja nos poderosos, opõe-se à presença inglesa em Portugal e à ausência do rei. Luta pela liberdade.  
  • D.Miguel Forjaz - prepotente, corrompido pelo poder, vingativo. 
  • Principal Sousa - fanático, corrompido pelo poder, eclisiástico.
  • Beresford - poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico general inglês, severo e disciplinador; Mandou matar Gomes Freire D'Andrade.
  • Vicente - demagogo, sarcástico, falso humanitarista, movido pelo interesse da recompensa material, adulador no momento oportuno, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado, capaz de recorrer à traição para ser promovido socialmente. 
  • Manuel - " o mais consciente dos populares", andrajosamente vestido; assume algum protagonismo por dar início aos dois actos; denuncia a opressão a que o povo tem estado sujeito e a incapacidade de conseguir a libertação e sair da miséria em que se encontra. 
  • Matilde- " a companheira de todas as horas", corajosa, exprime romanticamente o amor; reage violentamente perante o ódio e as injustiças; afirma o valor da sinceridade; desmascara o interesse, a hipocrisia; ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre.
  • Sousa Falcão - " o inseparável amigo", sofre junto de Matilde perante a condenação do general, assume as mesmos ideias de justiça e de liberdade, mas não teve a coragem daquele. 
  • Andrade Corvo - Capitão do exército, mau oficial, ignorante, pedreiro-livre (ex-maçon), traidor, desonesto, corrupto, denunciante, interesseiro, oportunista.
  • Morais Sarmento- Capitão do exército, ex-membro da maçonaria, traidor, preocupado com a opinião alheia, desonesto, corrupto, denunciante, interesseiro, ambicioso. 


. Grande poder de Argumentação

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Contexto Histórico

Revolução Francesa de 1789 e invasões napoleónicas levam Portugal à indecisão entre os aliados e os franceses. Para evitar a rendição, D. João V foge para o Brasil. Depois da 1ª invasão, a corte pede a Inglaterra, um oficial para reorganizar o exército: GENERAL BERESFORD

Luís de Sttau Monteiro denuncia a opressão vivida na época em que escreve esta obra, isto é, em 1965, durante a ditadura de Salazar. Assim, o recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX, permitiu-lhe, também, colocar em destaque as injustiças do seu tempo.
A peça "Felizmente há luar" é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que apela à reflexão, não só no quadro da representação, como também na sociedade em que se insere. O teatro de Brecht pretende representar o mundo e o homem em constante evolução de acordo com as relações sociais. Estas características afastam-se da concepção do teatro aristotélico que pretendia despertar emoções, levando o espectador a identificar-se com o herói. O teatro moderno tem como preocupação fundamental levar os espectadores a pensar, a reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se insere. Surge assim a técnica do distanciamento que propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. Luís Sttau Monteiro pretende, através da distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o sofrimento dos outros. Deste modo o espectador deve possuir um olhar crítico para melhor se aperceber de todas as formas de injustiça e opressões.

Teatro Épico


 Representação de um acontecimento ocorrido no passado histórico. Sttau Monteiro (Felizmente Há Luar!), Bernardo Santareno (O Judeu) e Cardoso Pires (O Render dos Heróis), foram influenciados pelo dramaturgo alemão Bertoli Brencht, “pai” deste tipo de teatro que se opõe ao drama aristotélico.

Teatro Épico (drama não aristotélico)

- Deseja provocar uma atitude socialmente empenhada, visando a transformação da sociedade.
- Rejeita a cartase.
- O espetador deve ser desligado da ação, criando-se o efeito de distanciação.
- Valoriza a narrativa – o espetador ouve a narração dos acontecimentos.
- O espetador deve refletir, ser crítico.
- O espetador é ativo, estimulando a sua capacidade de observação e de raciocínio.
- O espetador recordará para sempre a mensagem da obra.
- O ator demonstra ação.
Encenação do Teatro Épico
- O encenador deve utilizar uma vasta variedade de efeitos para que os espetadores desenvolvam as suas capacidades de reflexão.

- A história estrutura-se por uma sucessão de situações; o décor, sonoridades e coreografia são independentes, tal vista a impedir a criação da ilusão da realidade; os gestos, os aspetos fisionómicos, os comportamentos, a entoação constituem o que Brecht denominava, no seu conjunto, por “gestus”, isto é, as atitudes marcantes do ser humano.

- No palco, todas as formas de criar ilusão devem ser banidas, como, por exemplo, o uso de cortinas. Assim, as cenas são exuberantemente iluminadas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Texto dramático


A palavra teatro significa literalmente o lugar de onde se olha. O teatro é um espetáculo: como tal, requer a presença física de atores, representando para um público, dando vida a um texto através de palavras proferidas em cena. O texto de teatro é concebido para ser representado: ler uma obra de teatro impõe ter em conta como será representada. A peça de teatro não se reduz à linguagem verbal; comunica informações e produz efeitos através de todas as componentes do espetáculo.



 Ao texto dramático (que fixa o discurso das personagens) junta-se, no momento da representação, elementos visuais ( gestos, objetos, cenários, luzes...) e sonoros ( intonações, sons, música). O autor dramático escreve um texto com vista à representação, deixando sempre uma margem de liberdade ao encenador e aos atores que se apropriam do texto para o fazer reviver em cena. 

    Por isso, ler um texto de teatro não é o mesmo que vê-lo representado, sendo essencial para a sua leitura descodificar as informações contidas nas didascálias, que fazem parte integrante do texto dramático, e interpretar os sentidos múltiplos ou ambíguos atribuídos ás diferentes personagens, bem como as relações que estas mantêm entre si.
É constituído por:
  • Texto principal composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
  • Texto secundário (ou didascálio) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:
    • pela listagem inicial das personagens;
    • pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
    • pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
    • pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
    • pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;

Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.
Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
Estrutura interna:
  • Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
  • Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
  • Desenlace – desfecho da acção dramática.
  • Classificação das Personagens:
* Quanto à sua concepção:
  • Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
  • Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.
* Quanto ao relevo ou papel na obra:
  • protagonista ou personagem principal Individuais
  • personagens secundárias ou
  • figurantes Colectivas

Tipos de caracterização:
  • Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
  • Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.

Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
  • Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
  • Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.
Tempo:
  • Tempo da representação – duração do conflito em palco;
  • Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
  • Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.
Discurso dramático ou teatral:
  • Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
  • Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
  • Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.
Intenção do autor - pode ser:
  • Moralizadora;
  • Lúdica ou de evasão;
  • Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
  • Didática.
Formas do género dramático:
  • Tragédia
  • Comédia
  • Drama
  • Teatro Épico.

Outras características:
  • Ausência de narrador.
  • Predomínio do discurso na segunda pessoa (tu/vós).