terça-feira, 27 de novembro de 2012

Felizmente Há Luar! - Ação, Espaço e Tempo



Ação


  • A conspiração abortada de 1817, que antecedeu a revolução liberal de 1820 e que teve como " suposto cérebro" o general Gomes Freire D'Andrade, serve de pretexto ao autor para, evocando essa época histórica e situando a acção dramática nesse tempo histórico, falar do seu próprio tempo (1961), alertando as consciências, denunciando situações de repressão comparáveis a outros tempos de noites sombrias.
  • É representada por actores diante de espectadores que a sentem como actual.
  • Desenvolve-se num andamento progressivo, segundo uma introdução, um desenvolvimento e um desfecho. 

Espaço


 Em Felizmente há luar! a mudança de espaço físico é sugerida essencialmente pelos efeitos de luz. O espaço cénico é pobre, reduz-se a alguns objetos que têm a função de ilustrar o espaço social. Esta simplicidade parece ser intencional e mais importante que os cenários são a intensidade do drama que é realçada por esta economia de meios.


  O espaço psicológico caracteriza-se pela relação afetiva que algumas personagens mantêm com determinados espaços que, evocados pela memória, sugerem características psicológicas das personagens que lhes fazem referência. O espaço social é-nos mostrado através das didascálias, no que diz respeito ao guarda-roupa e adereços, atitudes e movimentações das personagens, informações transmitidas entre personagens e registos de língua. 




Ato I:


. Ruas de Lisboa (onde se encontram os populares)

. Local onde D.Miguel Forjaz recebe Vicente
. Palácio dos governadores do Reino, no Rossio
. Referência à casa de Gomes Freire lá para os lados do Rato e espaços frequentados pelos revolucionários conspiradores – café no Cais do Sodré; Botequim do Marrare; loja maçónica na rua de São Bento.




Ato II:


. Ruas de Lisboa;


. Casa de Matilde de Melo;


. À porta da casa de D. Miguel Forjaz;

. Local onde Matilde fala com o Principal Sousa;
. Alto da serra onde Matilde e Sousa Falcão observam as fogueiras que queimam os revolucionários;
. Referência à masmorra de S. Julião da Barra, Campo de Santana para onde são levados os presos, aldeia onde Matilde cresceu, Paris, campos da Europa onde o General combateu.



Tempo

  Em relação a Felizmente há luar! podemos falar sobre três tempos: o tempo histórico, o tempo da acção e o tempo da escrita.

Tempo histórico

   A acção de Felizmente há luar! representa a história do movimento liberal oitocentista, no rescaldo das invasões francesas e a "protecção" britânica que se lhe seguiu, revelando as condições da sociedade portuguesa no início do século XIX e a acção de resistência dos mais esclarecidos. A conspiração, encabeçada por Gomes Freire, manifestava-se contra a ausência da corte no Brasil, contra o poder absolutista e tirânico dos governadores e contra a presença inglesa personificada por Beresford. Destaca-se ao longo do texto, a situação do povo oprimido e a falta de perspetiva para o futuro. Os acontecimentos históricos reveladores de um tempo de uma crise militar, de uma crise política, económica, ideológica e a data de execução do General Gomes Freire, são percetíveis através das falas das personagens (“Vê-se agente livre dos Franceses, e zás!, cai na mão dos Ingleses!”/”sempre a Revolução francesa…”/”Esta praga lhe rogo eu, Matilde de Melo, mulher de Gomes Freire d’Andrade, hoje 18 de Outubro de 1817.”).


Tempo da acção 


  Felizmente há luar! tem como cenário o ambiente político do início do século XIX: em 1817, uma conspiração, encabeçada por Gomes Freire de Andrade, que pretendia o regresso do Brasil do rei D.João VI e que se manifestava contrária à presença inglesa, foi descoberta e reprimida com muita severidade: os conspiradores, acusados de traição à pátria, foram queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir.
  As indicações temporais fornecidas pelo texto permitem-nos verificar que a intriga se desenrola de forma linear e progressiva, embora não sejam muito precisas as indicações sobre a duração da acção. 


Tempo da escrita


  Felizmente há luar! foi publicado em 1961, em plena ditadura do regime de Salazar. Sttau Monteiro viu na época de 1810-1820 grandes semelhanças com a realidade portuguesa da década de 1950-1960 e marca uma posição pelo conteúdo fortemente ideológico, denunciando a opressão vivida na época em que escreve a obra, em 1961, estabelecendo um paralelismo entre as duas época

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